sábado, 8 de dezembro de 2012

Oito de Dezembro

Há dois anos, a esta mesma hora, eu era só ansiedade e incerteza. Em um quarto de hospital, com o Marido, só cabia a mim esperar. Esperar por ordens, notícias, orientações, visitas, esperar pelo melhor. Há dois anos, a esta mesma hora, eu dava entrada no hospital para passar pela coisa mais assustadora que me aconteceu: um cirurgia de pelo menos 4 horas para a retirada de um câncer no pulmão e uma parte dele.

Sim, lá se vão dois anos, e parece que foi ontem que precisei pedir um calmante para conseguir falar palavras inteiras, sem engolir nenhuma letra, de tanta ansiedade. Parece que foi ontem que a Camila Laudano e a Andrea Uchôa entraram no quarto com um balãozinho de coração metalizado, um jarro de lírios e um cartão com os melhores desejos de toda a equipe do Núcleo de Imprensa (nada disso pôde ficar no hospital, mas estava tudo me esperando no quarto quando voltei pra casa). Parece que foi ontem que entrei em uma sala de cirurgia deixando minha família inteira do lado de fora, com a cara mais apreensiva do mundo. E levando em consideração que tenho 31 anos e pretendo viver mais uns 60, foi ontem mesmo...

Desde então (para ser mais precisa, desde 28 de outubro de 2010, dia do diagnóstico de tumor carcinóide atípico moderadamente diferenciado no pulmão), minha vida mudou um pouco. Nunca fiz tantos exames de sangue na vida - e nem assim perdi o medo das agulhas; e tomografia agora é como tomar remédio para dor de cabeça. Agora aprendi que é legal se deixar cuidar, mesmo mantendo a mania de tomar conta de tudo e se meter na vida de todos. E a melhor parte: ganhei mais um dia para celebrar um aniversário, coisa que amo!

Sim, porque considero 8 de dezembro de 2010 um segundo aniversário - coincidentemente, no ano que marca, segundo a astrologia, o retorno de Saturno, o fim de um ciclo e o recomeço de outro (até falei disso no primeiro post deste blog). O Renato Russo cantou bem isso em "29", do CD "O Descobrimento do Brasil". Acho que foi o recomeço mais bem marcado que já tive, e os próximos não precisam ser pelo mesmo processo... 

O Marido acha que não devo ficar com essa data marcada - este ano, ele me perguntou se eu ia comemorar isso todo ano. Às vezes entendo o ponto de vista dele, que convive comigo todo dia, e sabe que nem sempre as lembranças do câncer a da cirurgia me fazem bem. Mas acho que revestir esse dia de alegria pelo resultado positivo vai deixá-lo cada vez mais uma memória mais para boa que para ruim. Sim, porque me lembro da incerteza, da falta de controle sobre o que ia acontecer comigo, do medo de morrer na cirurgia, da internação longa e dolorosa, do período de recuperação mais doloroso ainda (e de como enlouqueci a vida do Marido)... Mas me lembro muito mais de entender que, a partir daquele dia, daquele tumor eu não morreria mais. E a cada ano comemorado, me lembro que é menos um de ameaça - quando chegar no quinto, estarei oficialmente curada e de alta!

Até lá, vou oscilando entre a certeza de que estou bem, porque não estou sentindo nenhum sintoma da metástase específica deste tipo de câncer (síndrome carcinóide), e o medo de que algum tumor esteja aparecendo, já que da primeira vez não senti nada também. Mas quer saber? Os momentos de certeza de estar bem estão ganhando agora, e é isso que importa. E o que vale mesmo é comemorar mais um ano de vitória!