quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Perdas, ganhos, reconquistas

Fuém, fuém, fuém.... Meu terceiro dia de férias poderia ter sido assim. Mas tudo na vida é ter um plano B. E mais uma vez, uma prova de que planejamos apenas para nos manter na sanidade; realizar os planos depende de um conjunto de coisas, e a vontade / determinação é apenas um elemento. Hoje seria meu primeiro dia de praia das férias. Qual o quê (adoro essas expressões velhas)! Dia sem sol. Poderia ter ficado reclamando em casa, mas qual a graça disso?

Livro e filme fizeram o meu dia bem melhor do que eu poderia imaginar.

Biblioteca Pública da Tijuca. Um senhor que parecia saído de um filme é o atendente. Muito simpático, feliz quando eu falei que iria me inscrever e já pegar livros! Fui atrás de uma Marian Keyes e um Mia Couto (tudo a ver um com o outro, né? Só que não): o que tinha dela já li; os dele, não consegui achar na estante. Mas dei de cara com "a máquina de fazer espanhóis", do valter hugo mãe - ele escreve e assina em minúsculas mesmo. Estou encantada e envolvida com a história: um velhinho perde sua companheira de toda a vida e é levado para um asilo. Só cheguei até aqui. Mas o jeito que ele escreve pega o leitor.

"estávamos escondidos de todos, eu e a minha mulher morta que não me diria mais nada, por mais insistente que fosse o meu desespero, a minha necessidade vital de respirar através dos seus olhos. a minha necessidade vital de respirar através do seu sorriso. eu e a minha mulher morta que se demitia de continuar a justificar-me a vida e que, abraçando-me como podia, entregava-me tudo de uma vez. e eu, incrível, deixava tudo de uma só vez ao cuidado nenhum do medo e recomeçava a gritar."

Belo. Tocante. E mais bonito ainda é saber que ele escreveu uma história de um velhinho porque o pai morreu antes da terceira idade: um presente dele para o pai.

Comecei a ler na volta do cinema, fui ver um filme que também fala de perdas e encontros. E como se trata de mim, não foi uma simples ida ao cinema: foi uma "viagem" a Guadalupe! "À beira do caminho", do Breno Silveira, estreou há um mês e passa em apenas três salas no Rio e Região Metropolitana. Em horários estranhos. Escolhi 13h no Multiplex Jardim Guadalupe Shopping - um shopping novo na Avenida Brasil.

(Só um comentário: o shopping é lindo, grande, com lojas bem legais, e o cinema... Bem, é maravilhoso! Grande, poltronas superconfortáveis e uma tela gigante! Hoje, a entrada custava módicos R$7. Valeu muito a visita!)

Aguardei esse filme ansiosamente, desde que comecei a ler a respeito. Um caminhoneiro solitário que esconde um passado que gerou essa solidão encontra um menino escondido em seu caminhão. O garoto quer ir pra São Paulo atrás do pai que nunca conheceu, agora que a mãe morreu. Tudo guiado por algumas músicas de Roberto Carlos. O final ao som de "Eu voltei, agora pra ficar..." é a coisa mais linda. Ao longo do filme, mesmo sem saber nada do que fez João, o caminhoneiro, ficar desse jeito, a gente sente o sofrimento dele. Mérito do diretor, mérito do excelente ator (João Miguel). O menino também gera um amor instantâneo, com seus olhos profundos.

Não sou profunda conhecedora de cinema, sou mais curiosa mesmo. Mas achei muito bom cartelar o filme com frases de parachoques de caminhão. Lindo como a paisagem da estrada traduz o estado de espírito de João, um homem orpimido por si mesmo, rodando entre aridez, paredões rochosos, poeira... Como essa paisagem vai mudando ao longo do filme. Talvez seja um lance óbvio, mas não achei.

Muitas perdas e encontros ao longo da estrada. Uma história de vida como tantas outras, com mais ou menos tragédias. Sou manteiga derretida, ok, mas duvido que alguém consiga conter as lágrimas, ou pelo menos uma marejada nos olhos, quando João volta à casa da mãe e assiste um VHS antigo com uma gravação doméstica. Ou que não se emocione com a sequência final.

Tudo isso visto por 5 pessoas: eu e dois casais. Dia de semana, 13h. Só para quem está de férias mesmo.

***
Um dia cheio de idosos.
Amanhã, 13/9, seria aniversário de 90 anos do meu avô.
Ele morreu há quase 6 anos: a primeira grande perda da minha vida.
José Maurílio foi um self-made man: criou seu próprio sobrenome, que vai morrer aqui, com os netos que conviveram com ele - uma vez que só teve filhas. Do nada, da roupa do corpo e da força, criou três filhas e apoiou nove netos. Construiu duas casas. Ao contrário de João, do filme, não fugiu diante da dor, e sim se reinventou. Olhou só para frente. Acho que ele foi feliz, afinal, só nos deu felicidade, e as pessoas espalham o que sentem, certo?
Avô, é em honra a você que mantive o Maurílio no meu nome depois de casada.
Amanhã vou brindar aos seus noventa anos, afinal de contas, você vive em nós.





2 comentários:

  1. Que saudade do vovô... Ele foi a pessoa mais incrível que já conheci.

    ResponderExcluir
  2. Amém . Linda homenagem. Seu avô está feliz com isso... Vc é linda e especial irmã! Beijos Míriam

    ResponderExcluir

Adicione mais uma curva a esta estrada