segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"But I know I have a fickle heart and bitterness, (...) and a heaviness in my head"*

Parece uma maneira triste de nomear um post, mas não é. Na verdade, o nome deste poderia ser autoconhecimento. Este último ano foi de conhecer e reconhecer quem eu sou.
Esse é o post de quinta-feira, 08/12, data do meu primeiro segundo aniversário. Saiu da minha cabeça para o papel com alguns dias de atraso - segundo a terapeuta, os adiamentos nunca são sem motivo; acho que o motivo era digerir melhor a data. Um dia em que escolhi comemorar, mas que, como minha cicatriz das costas, ainda dói um pouquinho, às vezes.
É um clichê. Na verdade, este parágrafo vai ter um monte deles. Nasci de novo no dia 08/12/2010. A cirurgia e a descoberta do câncer me fizeram valorizar muitas coisas e aprender outras. O maior ensinamento foi descobrir que eu não me basto, que posso pedir ajuda e que ser cuidada é bom. Se havia algo que eu precisava aprender era isso. Sou aquele tipo de pessoa que resolve as coisas sozinha, pensa tudo na sua cabeça e decide o que fazer e se dirige mais aos outros para oferecer ajuda que para pedir. Dá pra imaginar o que foi ficar no centro das atenções, incomodando e dando preocupação para os que eu amava e amo?
No dia em que meu diagnóstico foi fechado, chorei o que tinha e o que não tinha pra chorar, como já disse no post inaugural. Não pensei que ia morrer; mas pensei que essa era uma possibilidade mais real. Minha primeira preocupação foi contar para os meus pais e meus irmãos - porque o Marcus estava comigo e não dava pra ele não saber na hora. A minha vontade inicial era esconder: dizer que não era nada, que estava tudo bem, etc. Mas como isso era impossível de fazer, tive que contar.
No dia do exame, meu pai me ligou tantas vezes que eu fiquei com raiva, tamanha era a ansiedade deles com o resultado. Quando chegou a hora de dar a notícia, me vesti com a maior força do mundo e mandei a verdade, por telefone. Ficaram sem voz. Minha irmã chorou. Meu irmão emudeceu. Tava aí o quadro que eu precisava: agora, eu ligava para saber como eles estavam, me preocupava com eles para desviar a atenção de mim. Essa foi minha defesa até a hora da cirurgia (mais sobre isso em mais alguns dias, prometo!)
Quando decidi mandar e-mails para os amigos contando do tumor, meu medo era virar boato antes que eu pudesse dizer a verdade. Essa foi uma das melhores decisões da minha vida. Nesse momento, vi a dimensão concreta do amor dos meus amigos. Quando alguns criticaram o Gianechinni quando ele disse que estava recebendo tanto amor que olhando por esse ângulo o câncer era uma dádiva, entendi perfeitamente (aliás, ele vai ser objeto de um post, em pouco tempo).
No fim deste primeiro ano, respondi a principal pergunta que me fiz pouco mais de um ano antes: se essas coisas acontecem para ensinar alguma coisa, por que eu? Não vejo nada que eu tenha que aprender, ou dar mais valor... Boba e presunçosa! Aprender é o que nos mantém vivos; e eu aprendi que tenho o direito de dar preocupação pra quem me ama. Entre otras cositas, por supuesto.

*"Mas eu sei que tenho um coração inconstante e amargura, (...) e um peso na minha cabeça" Don't you remember - Adele

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Celebrar!

Esta quinta-feira será um dia especial. Esquisito, mas especial. É o dia exato do meu primeiro segundo aniversário - sim, faz um ano da minha cirurgia. Confesso que tenho andado esquisitíssima nesse período de aniversário de diagnóstico, exames e cirurgia. E acho que vou ficar mais estranha ainda, mais emotiva, um pouco mais descontrolada, um pouco mais sensível... Mas esse balanço vou deixar para quinta-feira!

Um pouco antes da cirurgia, pensei que, para alguém como eu que ADORA fazer aniversário, ter a oportunidade de nascer de novo seria um presente (clichê, clichê...). Por isso, os festejos já começaram! Semana passada passei uam noite muito agradável e engraçada com alguns amigos em um bar de karaokê com banda ao vivo! A ideia foi colocar em prática o lema quem canta seus males espanta. Cantei tanto, tanto, tanto, que fiquei rouca! Qualquer mal que quisesse se aproximar ia sair correndo com a minha (des)afinação! Em resumo, alma lavada e enxaguada.

Aí me pus a pensar: será que é preciso algo traumático - no caso, câncer e cirurgia - para comemorar a vida? Acho que um dia só, o do aniversário, é pouco para isso. E eu, que sempre quis celebrar tudo sempre, vi mais sentido ainda nessa festa diária depois desse episódio da minha vida. Longe de querer dar uma de autora de autoajuda (meu livro jamais será nesse tom - no dia remoto em que eu escrever um), mas a vida é para ser vivida e celebrada. Sempre e em todo o lugar. Acredito que a maior maneira de celebrar a vida é ser respeitoso com você e com os outros e jamais fazer contra alguém op que vc não quer que seja feito com vc. Isso me lembra uma música do Legião Urbana - A Fonte (um trecho), que está no maravilhoso O Descobrimento do Brasil (o link: http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46922/):

Celebro todo dia
Minha vida e meus amigos
Eu acredito em mim
E continuo limpo


Você acha que sabe
Mas você não vê que a maldade é prejuizo
O que há de errado comigo?
Eu não sei nada e continuo limpo


Ao lado do cipreste branco
À esquerda da entrada do inferno
Está a fonte do esquecimento
Vou mais além, não bebo dessa água
Chego ao lago da memória
Que tem água pura e fresca
E digo aos guardiões da entrada
"Sou filho da Terra e do Céu"


Dai-me de beber, que tenho uma sede sem fim
Olhe nos meus olhos, sou o homem-tocha
Me tira essa vergonha, me liberta dessa culpa
Me arranca esse ódio, me livra desse medo


Olhe nos meus olhos, sou o homem-tocha
E esta é uma canção de amor
E esta é uma canção de amor

Um tanto enigmática, com diversas interpretações possíveis. A minha é valorizar a vida, viver, e deixar viver.